segunda-feira, 28 de dezembro de 2009


Ele já tinha se cansado de correr. Os músculos rígidos das pernas já tremiam de exaustão.
Havia parado no meio do bosque. Era outono, as árvores, senão vermelhas, estavam marrons. Suas folhas secas, como que expulsas do corpo maior, reclamavam quando pisadas. Ele já não sabia se estava num bosque ou numa floresta. Não encontrava a saída, tampouco a entrada. Árvores altas e arbustos pequenos se confundiam. Estava muito frio. A chuva não parava, nem para que os céus respirassem, ela caía sem dó. Forte.. como num choro desesperado. Aliás, ele podia jurar que ouvia os céus soluçando. Ou eram os soluços dele.
Já estava arquejado. Apoiado nos joelhos, as pernas estiradas, trêmulas, esperando pelo próximo impulso. A calça jeans encharcada, grudada na pele. O peito nu, as costas vulneráveis, e o lobo logo atrás. Observando.
Quando levantou a cabeça, na tentativa de ver um caminho a seguir pela frente, o que era impossível por causa da camada nada transparente da chuva, ele a viu.
Com um grito de ódio, o peito dele quase entrou em colapso. Ela não se moveu.
- o que você faz aqui?
Ela ficou quieta.
- Eu tinha te deixado lá atrás. Longe de mim.
Ele tinha as mãos no rosto, tentando não vê-la. O silêncio dela incomodava.
- Eu não aguento mais a sua realidade inexistente. O seu poder de misturar o meu mundo são com o absurdo que fica na minha cabeça. Você conseguiu! Mostrou-me que tudo o que é real é falso e sofrível. Então some daqui!
Ela não se moveu. Os cabelos negros, longos, lisos, brilhantes, caídos no corpo. A pele maciça, branca, suave, se confundia com o vestido branco de seda. Molhada dos pés a cabeça. Quieta.
- Eu já consegui sair do labirinto que tem nos seus olhos. Da armadilha que são seus braços. Do veneno que mora no seu lábio. Eu não te quero mais.
Ele fechou os olhos. Na esperança de que ela sumisse.
Ridiculamente impossível. Quando os abriu, ela estava muito mais perto.
E ele olhou fundo naqueles olhos esperançosos. E se perdeu novamente. Ali, neles, ele conseguiu se ver caindo e caindo e caindo e caindo.
Então ela fechou os olhos. E o aprisionou ali para sempre.
Ele se calou. Ela sumiu.
O lobo uivou tristemente atrás dele.