domingo, 31 de julho de 2011



A pior parte é quando nós temos que deixar partir. Arrancar um pedaço do peito voluntariamente. Vê-lo se afastar cada vez mais pelo vidro traseiro do carro. Foi assim da última vez em que ficamos juntos. Eu te vi sumir atrás, mas ainda estou olhando para o retrovisor. 
Eu não estou conseguindo passar por essa parte. Tirar você de dentro de mim, da minha mente, é suicídio. Um medo mortal de jamais sentir amor novamente. Então eu me apego a isso, ao amor que tínhamos, e que ainda mora aqui. 
Apego… machuca. Está mais do que na hora de eu te colocar no carro e te levar para um floresta. Para você ir viver, encontrar seu caminho; para o seu próprio bem. E eu, ao entrar no carro, não mais te procurar em qualquer reflexo. Saber que eu posso refletir o que tem de melhor em mim e em você por conta própria, sem ter a necessidade de sempre te buscar na memória.
A pior parte é quando nós temos que deixar partir.
Eu já estou dentro do carro, mas você ainda está no retrovisor. Saia, por favor. Assim eu posso ligar o motor e seguir meu caminho.

quarta-feira, 20 de julho de 2011




Foi só hoje que eu consegui perceber o que estava errado. Há tempos já não havia o mesmo eu dentro de mim, tampouco fora. A vida que se ajeita diante dos nossos olhos é o reflexo de tudo aquilo que ocorre por detrás deles. Eu me notei insatisfeita com o contexto, o texto, o enredo, mas não tinha percebido que o personagem, a palavra e a direção também estavam desfalcados. Por sorte sei que depois de toda crise vem o ressurgimento, a renovação, e o foi o que aconteceu hoje comigo.
Fui a um programa de auditório com a banda O Teatro Mágico, que, aliás, fazia tempo que não escutava, e quando o Fernando começou a tocar Realejo, ali, logo nas primeiras notas, na batida leve, eu vi, ouvi, senti você. E pude perceber as tantas coisas boas, todas as facetas que me compunham, que eu perdi, que eu deixei para trás quando decidi esquecer a ideia de um nós futuro. Não só a poesia das milhares de músicas que eu costumava inspirar, mas também toda a poesia que corria no meu corpo nunca mais conseguiu transpirar. De certo que o sofrimento humaniza e a felicidade ludibria, mas eu lutava pelo equilíbrio dos dois e me perdi na batalha. Já não sabia mais quem era adversário e por quem eu devia morrer.
Eu abandonei meus livros... Shakespeare parou de envenenar momentaneamente o meu coração, Vinicius me pareceu tão eterno quanto sua paixão, já não conseguia mais escutar as estrelas de Olavo Bilac, aliás, as únicas que falavam surdamente aos meus olhos eram as que compunham o Cruzeiro do Sul. Agarrei-me às palavras de Caio Fernando Abreu e passei a esperar somente um porre, férias e uma nova paixão, mesmo sabendo que eu não queria, não quero, viver nada disso, prefiro o refresco, o imprevisível do dia-a-dia e um amor pra vida inteira.
Eu abandonei meus papéis e minhas canetas... Verso nenhum rompeu mais a minha realidade do meu ideal. Sentimentalismo nenhum voltou a pulsar nas pautas azuis das folhas, nenhum rabisco conseguiu tirar a angústia do meu desencontro de mim mesma. Fiz desse blog um caderno esquecido no tempo, pois você está em todos as palavras dele.
Eu abandonei as girafas, as morsas, o nosso basenji. Deixei para trás o sono das baleias, Platão e as constelações. Meu último romance foi com Los Hermanos e, então, fechei as portas para toda e qualquer música boa que me fizesse lembrar de você. Por mais que elas ainda estejam no meu dedo, eu as deixei voar para longe, aquelas borboletas azuis que me davam nó na boca do estômago.
Mas fazendo isso eu me esqueci de mim. Não que eu esteja querendo recuperar um egocentrismo que eu, aliás, jamais tive, não, apenas quero o meu eu, que era seu, de volta. Eu era feliz daquele jeito, com aquele sentimento de amar a vida e sentir o pulsar vivo e complexo de cada criatura divina. Foi amando você que eu aprendi a amar o simples fato de estar viva. Burrice minha deixar isso tudo ir embora, ter deixado você ir embora. Acreditar que, ao continuar com tudo, faria-me sentir sempre que minha vida sem você é um grande nada.
Foi só hoje que eu percebi que não pode ser assim, que eu tenho que voltar a ser aquilo que eu fui de melhor, que só assim eu serei livre de toda essa massificação, toda essa coisa "comum" que eu me tornei. Que eu serei toda aquele eu, que era sua, mas só para mim. Impossível receber visita com a casa desarrumada. A partir de ontem em diante estou fechada para limpar o terreno, afofar a terra, pois creio que no tempo certo alguém mudar-se-á para o meu peito e, eu já sendo tudo o que realmente fui e sempre serei, dar-lhe-ei motivos para se enraizar.
Afinal, "Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior" e levarei comigo o conselho: "Camarada, viva a vida mais leve Não deixe que ela escorregue Que te cause mais dor (...) Viva a tua maneira Não perca a estribeira Saiba do teu valor E amanheça brilhando mais forte Que a estrela do norte Que a noite entregou".




DE ONTEM EM DIANTE
"De ontem em diante serei o que sou no instante agora
Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa
Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada
são coisas distintas
Separadas pelo canto de um galo velho
Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho
Do versículo e da profecia
Quem surgiu primeiro? o antes, o outrora, a noite ou o dia?
Minha vida inteira é meu dia inteiro
Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro!
Minha mochila de lanches?
É minha marmita requentada em banho Maria!
Minha mamadeira de leite em pó
É cerveja gelada na padaria
Meu banho no tanque?
É lavar carro com mangueira
E se antes, um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira
E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem."

terça-feira, 5 de julho de 2011


Nessa semana que passou eu, para variar, estava reclamando do meu status de relacionamento quando alguém virou para mim e disse "você está sendo muito exigente". Para começar, eu não havia dito traço algum, tampouco trejeito, religião, raça, gênero ou cor a qual a pessoa deveria ter/pertencer/ser. Talvez minha exigência seja com relação ao tempo. Dentro de pouco fará um ano e, mais a frente, dois. Em ambas as situações fui eu que vi partir, e não a que foi assistida. Mas passou. A casquinha da ferida às vezes coça, mas eu tenho me esforçado demais para não sentir o incômodo. E tem surtido efeito.
Confesso, fiquei pensando muito nesse lance de exigência. Mais especificamente se há mesmo um "tipo" que faz meu gosto. Elenquei algumas qualidades e alguns defeitos, mas continuo com o sentimento de incerteza. Talvez seja por causa do processo pelo qual estou passando. Amadurecer é difícil, optar por largar certos hábitos, substituí-los, crescer... e tentar fazer disso algo prazeroso, não um caminho para o fim. E quando não nos conhecemos no momento, quando ora se quer capuccino com canela e outrora um toddy gelado, não há como definir um "tipo".
Por teimosia, ou por falta do que fazer, pensei sim num tipo que caberia nas minhas idas e vindas do mundo da juventude ao mundo adulto. E se você, que pode ser o amor da minha vida, estiver lendo esse texto, não me faça mais esperar, por favor. Meu pai, minha madrasta, minha irmã, meu primo, meus amigos não aguentam mais me ver reclamando de carência. Não, não sou uma pessoa pegajosa, nem controladora, tampouco possessiva. Aliás, isso faz parte do tripé do bom relacionamento: Confiança, Espaço e Conversa.
Mas não quero falar de mim, quero falar de você que ainda não cruzou minha estrada, que ainda não me adicionou no facebook, tampouco fica esperando as minhas mensagens de texto desejando boa noite.
Você gosta de algum esporte? Não, não sou fanática por futebol, mas se você for não tem problema. Se acaso torcer para o Corinthians não conte ao meu pai. Pratica algum? vôlei, tênis, boxe, capoeira, futsal, handball, ou se só dá uma corridinha básica, uma caminhada, uma pedalada... seria um prazer acordar cedo, preparar-te um café saudável e sair contigo para fazê-lo. Se não, não tem problema, prometo voltar antes que você acorde. Aproveito para trazer pão fresco e o jornal. Você gosta de ler? Tenho bons livros em casa, mas, ainda assim, me sinto uma ignorante. Se você tiver um(a) escritor(a) que goste muito e que eu não conheça, diga-me logo, pois posso lê-lo e te conhecer melhor. Se você não gosta de ler, não tem problema, deixe para que eu ocupe minha cabeça com meus livros intelectuais enquanto você não estiver por perto. Você gosta de escrever? Não? Não tem problema, mas saiba que eu gosto muito de ler algo que fale de um nós por entre as linhas. É como se você guardasse a pessoa em tudo o que vive, como se ela sempre fosse uma mensagem subliminar na sua realidade. Eu faço isso, espero que não se incomode. Aliás, você se irrita ou se incomoda fácil? Eu não sou, então pode provocar e importunar à vontade. Porque eu sou o tipo de pessoa que gosta de fazer brincadeiras do tipo enfiar o dedo no seu nariz, na sua orelha, de ficar fazendo careta naquele hora séria que você  não pode rir, tipo quando sua mãe te pega na internet de madrugada falando comigo. Você gosta de conversar? Olha... se a resposta for não, teremos problemas. Sou uma pessoa tímida e não consigo,começar uma conversa e dar continuidade a ela se não houver feedback positivo. Se a resposta for sim, fale comigo. No começo eu vou ficar pensando nas coisas para te falar e posso demorar um pouco, mas eu vou falar, nós vamos conversar. Esse jeito de ter iniciativa para conversas, de se importar, de prestar atenção em coisas interessantes e falar sobre elas, SEMPRE me atraiu muito. Você se interessa pelas coisas da vida? Digo.. pelas pequenas, pelas grandes, por aquelas que passam despercebidos. Essas sempre rendem grandes conversar, e também me dizem que você tem sentimento no corpo, que gosta de perceber o mundo em volta, a vida que corre fora da sua cabeça, que você não tem apenas dois olhos, mas que você enxerga. Você se importa com o que acontece com os outros? Se sim, casa comigo? Brincadeira, brincadeira... mas quem não se importa com o próximo, com a família, antes não faz o mesmo consigo, tampouco fará comigo. Preciso de carinho tanto o quanto darei a você. Casamento, Familia?  Você pensa nisso? Ter uma casa para onde voltar do trabalho, ter um motivo para acordar de manhã e ir para uma rotina de um emprego, de algo que você faz com prazer, para trazer conforto para casa, para levar amor ao ninho, para ver a criança rir e se emocionar quando você der aquele ursinho de pelúcia que ela tanto queria, para ver a quem se ama tão feliz com uma surpresa, com uma noite romântica. Colocar a criança na cama, cobri-la e beijar-lhe a testa. Ir se deitar todos os dias, observar aquele ser humano ao seu lado com tanto amor, afeto, carinho e respeito, como assim era no começo do relacionamento. Aos domingos reunir a família para o almoço, não sei dos seus pais, mas os meus fariam a maior farra com os netos. Se os seus não fizessem, não teria problema, mas exigiria a sua presença da vida dos nossos filhos. E não se desculpe com trabalho, de certo, quando jovem, já teria passado pela sua cabeça que as pessoas são mais que importantes, que nós somos mais importantes. Não perca esse pensamento. Você gosta de comer o que? Eu amo cozinhar. Sem mentira, amo mesmo. O que você me pedir, farei para você comer. Não importa se fosse optar pelo vegetarianismo ou for do tipo que vive de carne vermelha. Eu opto pelo que é saudável e sei ceder com facilidade. Não se importe em dizer que não gosta de cebola, casinha de sapo, alcaparras, alecrim. Ou se você só come arroz, feijão, bife e batata frita. A gene sempre dá um jeito. Se quer saber, amo strogonoff, panqueca e todas as massas. Mas não dispenso nenhum outro tipo de comida, independente de cultura ou gosto. Aliás, se você gosta de cozinhar, nos divertiremos. Você bebe? Se sim, não tem problema, cada um tem seu limite. Mas se você exagerar e começar a fazer feiura, eu vou embora. Se você começar a passar mal, eu fico. Cuido de você, banho-te, zelo teu sono. Mas conversaremos no dia seguinte. O mesmo se aplica a mim. Mas espero que nos conheçamos quando eu já tiver parado de vez. Sim, optei por não beber mais. Um bom vinho sim, mas uma taça apenas. Você fuma? Se sim, não tem problema, mas não faça isso dentro de casa, por favor. Tenho rinite, isso me faria mal. Fora isso, é apenas mais uma característica sua. Não, eu não fumo. Você usa drogas? Se sim, tem problema. Não gosto nada disso. Já vi amigos em situações horríveis e me descabelei para ajudá-los. Não quero passar por nada disso de novo, não quero que você seja um peso para mim. Se não, que ótimo, você é como eu, uma agulha no palheiro.Você gosta de que tipo de filme? Todos? Que ótimo, mas quando for ver os seus de terror, não ligue se eu ficar com os olhos fechado por todo o tempo, tá bem? Tenho pavor de filmes de terror. Do contrário, qualquer outro é sempre bem vindo. Balada ou Bar?  Eu gosto dos dois, então o que estiver bom para você, estará bom para mim. Gato ou Cachorro? Idem à resposta da pergunta anterior. Flores ou Presentes? O que vier de você, que seja um canudinho mordido, guardarei numa caixa separada.
Carro ou bicicleta? Espero que você também não ligue muito para isso. Minha bicicleta sempre foi minha grande companheira. Não tenho pressa mortal em tirar carta. Beijo ou mordida? Um seguido do outro. Carinho? Amo fazer cafuné, espero que goste que eu mexa no seu cabelo. Se não gostar, não tem problema, espero poder segurar suas mãos, ou ainda passear meus dedos pelas suas costas.Você acredita em amor? Eu acredito. Se você não acredita, não comece nada comigo. Procuro alguém que atraia os olhos do meu coração, que me tome de jeito, que consiga domar o meu espírito livre. Na verdade, alguém que me dê motivos para querer ficar, mesmo quando eu deva partir.
É isso o que eu tenho para oferecer. Não importa seu gênero, raça, cor, estilo. Quero morrer de amores por uma alma que encontre na minha o descanso e a paz de um amor tranquilo, e eu consiga o mesmo. Quero alguém que me mostre o mundo diferente novamente. Quero alguém que tenha sempre algo a me dizer, mesmo que seja repetido, que não fale ou faça coisas por obrigação. Aliás, se algum dia nosso relacionamento virar obrigação para você, corte na hora, não vou me doar a alguém que não valorizará. Sou capaz de fazer loucuras pela pessoa amada. Loucuras boas, não pense em instante algum que eu vou hackear seu msn, ou grampear seu celular. Falo daquelas loucuras de quando a gente está cego de paixão. Na verdade, espero que o que tenhamos não seja só paixão. Espero que possamos compartilhar nossas rotinas, que nossos papos variem de notícias do jornal até os filósofos do leste europeu. Mas que nunca, jamais, deixem de passar por nossas vidas, pelo que nos fizemos no dia em questão e que digamos que pensamos um no outro.

Isso tudo é exigir demais?
Sim. Mas minha esperança e paciência são como minha alegria, as últimas a falecerem. Ou como numa analogia, são balões coloridos soltos no ar, estão sempre subindo com a crença de que nunca estourarão.