sábado, 23 de janeiro de 2010

"Vai ficar tudo bem. Tudo no final vai dar certo. Você vai conseguir superar isso. Você vai saber qual caminho seguir. Você vai saber ser quem você é."

Ele, alucinado, sentado no canto de seu quarto. A camisa branca suada, colada no corpo. A respiração ofegante. As mãos segurando tão firme os cabelos na cabeça, acho que temiam que até eles fugissem de controle. Os olhos negros, agora estavam vermelhos e rios desciam pelas pálpebras. Ele, mesmo sentado, jogava o corpo para frente e para trás. As costas, nessa altura do tempo, já deviam estar tomadas de hematomas.

A prisão, que sua cabeça havia se tornado, estava num motim. Todos os pensamentos, as palavras, as visões, as pessoas, as imagens, as paisagens, os poemas, os textos, brigavam entre si. Debatiam-se nas paredes do crânio. E ele continuava a dizer para si. Em voz alta. Pois o externo era impenetrável à caixa da loucura. "Vai tudo acabar bem. As coisas vão se acertar. Você vai poder ser o que sempre quis. "

Mas ele sabia que a paz - utópica, como sempre. - não viria tão cedo.

Hora ou outra ele teria de se levantar daquela encruzilhada de cimento - tanto onde estava quanto onde não estava. - e voltar a viver a vida anfíbia. De um lado um amor. Do outro, um tipo diferente de amor. Ou tão igual que passa a ser estranho.

Naquela noite ele adormeceu ali. De olhos abertos.

As palavras ecoavam, vazias, pelo quarto.

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