domingo, 27 de setembro de 2009
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Levar-me. Levantar-me.
Assim como os pêlos da cabeça.
Que têm em suas diretrizes
Esse propósito:
Deixarem-se levar pelo vento.
Existem pessoas que são de pessoas.
Existem pessoas que são de coisas.
Existem pessoas que são do mundo.
Eu sou do mundo.
E ao mundo eu me deixo. Use e abuse de mim.
Pois, entorpeça-me com todas as notas musicais;
Com todos os conjuntos delas;
Com todos os ritmos que regem essa azul circunferência.
Usa-me – este pedaço de carne –
De todas as maneiras que desejastes.
Eu sou livre de regras. Usa minha liberdade.
Divirta-me com as cores mescladas
Com as separadas
Com as que se complementam.
Encanta-me com diversidade.
Embebeda-me com palavras atraentes.
Atraia-me de maneira convincente.
Eu sou do mundo.
Eu nasci assim e ficarei assim.
Vagando na simplicidade.
Curtindo a iminência da surpresa.
Lógico, com os pés bem fixos na terra.
A cabeça bem alta no céu.
E na curta distância entre ambos,
Fica o resto do meu corpo
Bailando “ignorantemente”
A complexidade da existência.
“Ingnorantemente”. Pois a física,
A política, a química, a matemática,
A geografia, a economia, a história,
E todas as complicações,
Deixo aos infelizes.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
"-Mas todos os dias esse menino tá sentado ali!" - Exclamava ora indignado, ora curioso, o Seu Marcos da vendinha que ficava na esquina da rua.
Mateus todos os dias, no mesmo horário, ia para aquela rua e se sentava na guia da calçada. Ali ficava por horas, até que o sol cansasse de iluminar seus pensamentos, mirando a parede da fábrica abandonada.
O menino era louro, dos olhos azuis que tendiam ao verde. As bochechas rosadas de calor, o cenho vivia franzido por culpa da luz forte e a boca, que mais parecia um morango, havia de ser molhada pela língua várias vezes para não ficar ressequida. Era uma criança linda, de traços finos. E pelos trajes, percebia-se que ele não era daquelas ruas. Devia descer do condomínio não muito longe dali. Devia ser filho de pai rico e mãe "dona de compra". Seu melhor amigo era um peixinho dourado num aquário. Tão mesquinho e solitário quanto ele.
Naquele dia Seu Marcos resolveu questionar o menino:
- Ei, menino! Que você tanto faz aí parado? Olhando pra essa parede?
Silêncio. Mateus continuou com os olhinhos fixos na parede.
- Menino?! Que foi? Um gato comeu sua língua?
Depois desse questionamento, Mateus virou os olhinhos para cima, já que a diferença de idade ali era proporcional à diferença de altura deles. Mas não tardou, retornou aos seus pensamentos para com o muro.
O Muro. Feito de tijolos e muito extenso. Por trás dele, tem-se conhecimento de que havia existido uma fábrica. Nada mais. Um muro como outro qualquer: duro, ereto, vazio.
Seu Marcos sentou-se ao lado do menino e imitou-o. Crianças se irritam quando os adultos tentam imitá-los, fato.
- Não é só uma parede.
- Olha! Ele fala! - silêncio - É o que então?
- É um portal. - respondeu Mateus sussurrando, com a mãozinha em frente a boca.
(...)