segunda-feira, 28 de dezembro de 2009


Ele já tinha se cansado de correr. Os músculos rígidos das pernas já tremiam de exaustão.
Havia parado no meio do bosque. Era outono, as árvores, senão vermelhas, estavam marrons. Suas folhas secas, como que expulsas do corpo maior, reclamavam quando pisadas. Ele já não sabia se estava num bosque ou numa floresta. Não encontrava a saída, tampouco a entrada. Árvores altas e arbustos pequenos se confundiam. Estava muito frio. A chuva não parava, nem para que os céus respirassem, ela caía sem dó. Forte.. como num choro desesperado. Aliás, ele podia jurar que ouvia os céus soluçando. Ou eram os soluços dele.
Já estava arquejado. Apoiado nos joelhos, as pernas estiradas, trêmulas, esperando pelo próximo impulso. A calça jeans encharcada, grudada na pele. O peito nu, as costas vulneráveis, e o lobo logo atrás. Observando.
Quando levantou a cabeça, na tentativa de ver um caminho a seguir pela frente, o que era impossível por causa da camada nada transparente da chuva, ele a viu.
Com um grito de ódio, o peito dele quase entrou em colapso. Ela não se moveu.
- o que você faz aqui?
Ela ficou quieta.
- Eu tinha te deixado lá atrás. Longe de mim.
Ele tinha as mãos no rosto, tentando não vê-la. O silêncio dela incomodava.
- Eu não aguento mais a sua realidade inexistente. O seu poder de misturar o meu mundo são com o absurdo que fica na minha cabeça. Você conseguiu! Mostrou-me que tudo o que é real é falso e sofrível. Então some daqui!
Ela não se moveu. Os cabelos negros, longos, lisos, brilhantes, caídos no corpo. A pele maciça, branca, suave, se confundia com o vestido branco de seda. Molhada dos pés a cabeça. Quieta.
- Eu já consegui sair do labirinto que tem nos seus olhos. Da armadilha que são seus braços. Do veneno que mora no seu lábio. Eu não te quero mais.
Ele fechou os olhos. Na esperança de que ela sumisse.
Ridiculamente impossível. Quando os abriu, ela estava muito mais perto.
E ele olhou fundo naqueles olhos esperançosos. E se perdeu novamente. Ali, neles, ele conseguiu se ver caindo e caindo e caindo e caindo.
Então ela fechou os olhos. E o aprisionou ali para sempre.
Ele se calou. Ela sumiu.
O lobo uivou tristemente atrás dele.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Ele abriu a porta quase como num chute. Passou por ela e nem se virou para fechá-la. Simplesmente bateu-a com toda a energia potencial acumulada no seu braço.
Jogou sobre o sofá a maleta de trabalho, quase arrancou o pescoço ao desfazer a gravata e jogou-a no meio da sala. Saiu pelo corredor bufando, tremendo de tanta raiva. Se não fosse pela sua tez morena, estaria mais vermelho que a maçã que comera pela manhã.
Entrou na cozinha, puxou uma das cadeiras de mandeira da mesa e sentou-se bem no centro da copa. Arrancou os primeiros botões de sua camisa na tentativa de abrí-la para respirar melhor.
E gritou. Segurou no assento e gritou o mais alto que pôde. Com toda a raiva e angústia que faziam em seu peito um buraco enorme. E continuava gritando. Atéque suas cordas vocais não mais aguentassem e ele fosse obrigado a se calar. E assim aconteceu.
Fraco, ele caiu recostado na cadeira. Sem mais força pra nada. Só curtindo o vazio interno e olhando pro nada. Mal respirava. Quando o cheiro do perfume dela invadiu as narinas dele. Seu peito nu arquejou sobre o espaldar da cadeira.
Ele num esforço mortal, desceu a cabeça e olhou para frente. E ela estava lá. Vestia um vestido preto justo. Os cabelos negros curtos rentes ao pescoço. O olhar penetrante de pena.
Ele falou, mas ninguém escutou nada. As cordas vocais haviam desistido de pronunciar as palavras dele.
Ela levantou o dedo e colocou em cima de seus lábios. Aproximou-se e se sentou em seu colo, de fente para seu rosto. Segurou em seu pescoço e ficou olhando em seus olhos, ora para o direito, ora para o esquerdo. E foi beijando-o mansamente. Do manso ao intenso. Até que ele levou as mãos às coxas dela e sentiu o prazer da carne.
Cada toque dele nela, cada beijo dele no seu corpo, a pressão que as mãos exerciam sobre a pele.
Tudo de melhor que podia ter acontecido para que ele se arrependesse de tudo.
E isso certamente aconteceria se não fosse o fato de que ela não estava realmente ali. Que ele estava de novo no limite entre o real e o imaginário. Aí ele começou a chorar louca e absurdamente. Frustrado, angustiado, decepcionado, sozinho. Tudo pra ele que fosse real demais, era mais provável que fosse perdido. Sumido.
Ele, chorando até que as lágrimas secassem, foi até a sacada e ficou ali respirando o ar da madrugada. Com as mãos nos cabelos, o peito arquejante, e as gotas que seus olhos derrubavam, tudo o que ele tinha, foi carregado vento da noite sandia.

domingo, 27 de setembro de 2009



With her feet on the ground

And her head in the clouds

Well go get your shovel

And we’ll dig a deep hole

To bury the castle, bury the castle

Well you built up a world of magic

Because your real life is tragic

Yeah you built up a world of magic

If it’s not real

You can’t see it with your eyes

You can’t feel it with your heart

And I won’t believe it

Cause if it’s true

You can see it with your eyes

Sonhar é ousado quando a ilusão (que é a que mais se almeja) tende a se transaformar em realidade, mesmo sendo falso, pois seria bom demais para ser verdade.


Cecília

quinta-feira, 17 de setembro de 2009



Eu vou deixar o vento levar.
Levar-me. Levantar-me.
Assim como os pêlos da cabeça.
Que têm em suas diretrizes
Esse propósito:
Deixarem-se levar pelo vento.

Existem pessoas que são de pessoas.
Existem pessoas que são de coisas.
Existem pessoas que são do mundo.
Eu sou do mundo.
E ao mundo eu me deixo. Use e abuse de mim.

Pois, entorpeça-me com todas as notas musicais;
Com todos os conjuntos delas;
Com todos os ritmos que regem essa azul circunferência.
Usa-me – este pedaço de carne –
De todas as maneiras que desejastes.
Eu sou livre de regras. Usa minha liberdade.

Divirta-me com as cores mescladas
Com as separadas
Com as que se complementam.
Encanta-me com diversidade.
Embebeda-me com palavras atraentes.
Atraia-me de maneira convincente.
Eu sou do mundo.

Eu nasci assim e ficarei assim.
Vagando na simplicidade.
Curtindo a iminência da surpresa.
Lógico, com os pés bem fixos na terra.
A cabeça bem alta no céu.

E na curta distância entre ambos,
Fica o resto do meu corpo
Bailando “ignorantemente”
A complexidade da existência.

“Ingnorantemente”. Pois a física,
A política, a química, a matemática,
A geografia, a economia, a história,
E todas as complicações,
Deixo aos infelizes.


Cecília. -

sexta-feira, 4 de setembro de 2009




"-Mas todos os dias esse menino tá sentado ali!" - Exclamava ora indignado, ora curioso, o Seu Marcos da vendinha que ficava na esquina da rua.

Mateus todos os dias, no mesmo horário, ia para aquela rua e se sentava na guia da calçada. Ali ficava por horas, até que o sol cansasse de iluminar seus pensamentos, mirando a parede da fábrica abandonada.


O menino era louro, dos olhos azuis que tendiam ao verde. As bochechas rosadas de calor, o cenho vivia franzido por culpa da luz forte e a boca, que mais parecia um morango, havia de ser molhada pela língua várias vezes para não ficar ressequida. Era uma criança linda, de traços finos. E pelos trajes, percebia-se que ele não era daquelas ruas. Devia descer do condomínio não muito longe dali. Devia ser filho de pai rico e mãe "dona de compra". Seu melhor amigo era um peixinho dourado num aquário. Tão mesquinho e solitário quanto ele.

Naquele dia Seu Marcos resolveu questionar o menino:

- Ei, menino! Que você tanto faz aí parado? Olhando pra essa parede?

Silêncio. Mateus continuou com os olhinhos fixos na parede.

- Menino?! Que foi? Um gato comeu sua língua?

Depois desse questionamento, Mateus virou os olhinhos para cima, já que a diferença de idade ali era proporcional à diferença de altura deles. Mas não tardou, retornou aos seus pensamentos para com o muro.

O Muro. Feito de tijolos e muito extenso. Por trás dele, tem-se conhecimento de que havia existido uma fábrica. Nada mais. Um muro como outro qualquer: duro, ereto, vazio.

Seu Marcos sentou-se ao lado do menino e imitou-o. Crianças se irritam quando os adultos tentam imitá-los, fato.

- Não é só uma parede.

- Olha! Ele fala! - silêncio - É o que então?

- É um portal. - respondeu Mateus sussurrando, com a mãozinha em frente a boca.

(...)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009



Ela vestia um vestido bem decotado. Num tom dourado leve, com algumas rendas leves nos encontros das costuras. O cabelo castanho claro, do lado direito, estava puxado para trás, preso com uma daquelas prisilhas antigas, de madrepérola.

Estava sentada no campo, no meio da grama verde clara. Apoiava-se no braço esquerdo e as pernas estavam jogadas de lado, uma sobre a outra. De costas para mim.

No ombro direito, desnudo, saliente, estava pousada uma borboleta azul. Azul. Azulíssima. Reluzente.

Suas mãos brincavam distraidamente com a grama úmida. Ela cantarolava uma canção, uma melodia que ele sentia que conhecia, mas que nunca havia escutado. Aliás, ele poderia até jurar que aquelas notas nunca haviam passado pelo seu senso auditivo, mas jurar é ousar, quando se sonha demais.

Ele chegou por trás e sentou-se, praticamente, da mesma maneira que o corpo dela estava.
Aproximou a cabeça do pescoço dela, fechou os olhos e inspirou lentamente. Aqueles longos, ondolados e macios cabelos, carregavam consigo perfume de brancos lírios.

Abriu os olhos. Levou a mão esquerda até o ombro desnudo dela, calmamente, carinhosamente. E de modo delicado conseguiu convencer a borboleta a passar da saliencia lisa, para a rugosa da mão dele. Nesse momento ela inclinou a cabeça para a direita, observando-o com o rabo dos olhos que, mais uma vez, estavam pintados das mesmas cores que antes.

Ele ficou olhando a borboleta abrir e fechar as asas. Ela ficou olhando-o. Ainda cantarolando, enconstou a cabeça na cabeça dele e fechou os olhos.

As mãos dele estavam entretidos com a simplicidade do inseto. As dela estavam distraídas com a umidade da planta.

Ninguém falou hoje.

Os olhos dela estavam caramelizados. Na cor e na expressão.

- Cecília.

terça-feira, 25 de agosto de 2009


Os sentimentos, às vezes, divergem dentro de mim. E eu me sinto injusta.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009



Dessa vez ele não estava sonhando. Ou pelo menos queria acreditar que assim o fosse.

"Hoje eu não quero dormir","Hoje eu não quero dormir", repetia e denovo, sua consciência.




Ele saiu pela porta de vidro, na sacada do seu apartamento. A brisa, mais uma vez, estava morna e isso fez com que os poros em sua pele eriçassem os pêlos dos braços.




Os braços, excitados, debruçaram-se na pedra de mármore que ficava sustentada pelo cimento da sacada. Ele via a cidade dormir, o sol se pondo, as luzes se acendendo em blocos, os barulhos dos carros se dissipando. Dentro de pouco, o círculo branco, naquele dia minguante, apareceria no céu. Longe, linda, límpida, longe. Frustrante.




Esse pouco chegou, a lua surgiu e trouxe-a consigo. Dessa vez com um vestido leve, quase transparente e mais detalhes que não cabem a mim contar. Esvoaçante.




Ela pousou sobre a pedra de mármore, os pés descalços envoltos e faixas brancas muito bem lavadas. Dessa vez, no olho direito, um desenho estranho. Uma maquiagem diferente. Azul e rosa. Os cabelos não estavam nem de um lado, nem de outro, tampouco dançavam sobre a cabeça dela. Caídos sobre os ombros brancos, bem marcados, de busto farto e mais detalhes que a mim não cabem.




Dessa vez, foi ela quem falou:




- Gosto da maneira como você fala... Mexendo com os lábios.




A boca dela não se mexia.




- Gosto do tempo curto entre o dilatar e o relaxar das suas narinas. Do abrir e fechar das suas pálpebras.




Os olhos dela iam de um a outro dele.




- Gosto da textura da sua pele, de sentir cada filamento roçar no meu corpo frágil e arranhar os meus sentidos. Do jeito como suas mãos tocam na minha face com medo de que eu vaze por entre seus dedos denovo.




As mãos dele se levantaram. Ela estava encurvada e isso facilitou o percurso. Pegaram em suas bochechas rosadas.




- Gosto do calor que o teu corpo pode emanar, do constrangimento em mim causado pelo seu olhar, da vida que corre na sua carne, do seu viver, da sua finitude.



Ele somente a acariciava.




- Gosto do seu tempo, de degustá-lo. Admiro sua habilidade de sentir, de sofrer e sorrir.




Aproximou-se dela. Quando isso aconteceu, ela segurou em suas mãos, baixou-as e por fim, ainda sem movimentar os fartos lábios, disse:




- Acima de tudo, gosto da sua capacidade de sonhar fielmente comigo e de contentar-se com o fato de que eu só existo nesse breve espaço do seu dia. Ou da sua noite.




A boca dela tocou na dele. E seus dentes lhe fizeram uma marca. Forte, profunda.




A dor apertou. Ele acordou no sofá. Sentou-se. Levantou-se. Fechou a porta de vidro que dava para a sacada. A cidade estava acordando, o sol se levantando, as luzes se apagando e os carros seguindo suas rotinas.




Seguiu até o corredor e parou de frente para o espelho. A marca no seu lábio inferior sangrava.

"A solidão me marca intensamente" , ele disse para si mesmo, sem fazer a mecânica da fala.




Ele foi trabalhar. Os olhos dela, naquela noite, estavam azuis celeste.


- Cecília.

sábado, 22 de agosto de 2009


Ele estava sozinho mais uma vez.

Sentado numa cadeira de balanço, feita de madeira, entalhada a mão. Ele ia e vinha.
Para frente e para trás.

A cadeira ficava bem em frente à porta da casa. Nos seus pés havia um tapete branco, humilde.
Os braços, descançando sobre os braços da cadeira. As costas confortavelmente recostadas no encosto.

Os cabelos dele, negro, iam de um lado a outro da cabeça, loucos com a brisa. Os olhos, também escuros, estavam brilhantes. As pálpebras com os longos cílios, semicerradas.

Ele ia e vinha. Ia e vinha. A cadeira rangia.

Os movimentos eram despercebidos aos olhos dele que, na verdade, não estavam ali. Aliás, nem os pés dele estavam ali. Dois estavam perdidos no limite entre o azul do céu e o verde do mato. Outros dois estavam perdidos no caminho terroso que abria ao meio o verde do campo.

De repente, o empurrar e ser empurrado, cessaram.

Ela estava naquele caminho, de pé. Ele não estava mais sentado.

- Sabe do que eu não gosto em você? - ele gritou interrogando-a.
- Não. Do que? - ela, calma e serena como sempre, devolveu-lhe com mais uma pergunta.

- Não gosto de como toda a sua face sorri em conjunto. Boca, bochecha e sobrancelhas.

Nada.

- Não gosto do jeito gracioso com que os seus cabelos acompanham o rumo do vento. Da maneira como a sua roupa fica impedida pelo seu corpo de ir junto da brisa.

Só os grilos foram ouvidos no silêncio entre os corpos.

- Não gosto como a intensidade da sua respiração nos nosso momentos de loucura me tomam o fôlego. De como minha boca seca quando você larga os meus dedos. De como eu estremeço quando lembro do seu toque, da suas mãos espalmadas nas minhas costas. De como você vaza pelas minhas mãos tão facilmente.

Ela olhava para ele. Só.

- Não gosto da sua maneira de invadir meus sonhos, estando eu dormindo ou de olhos abertos. E da sua maneira de sair deles, gosto menos ainda.

...

- Não gosto da sensação de tempo estacionado quando seu corpo fica na presença do meu. E de como ele acaba rápido quando você se vira e some. E como ele segue arrastado, como se carregasse sacos de pedras enormes e pesadas, vagaroso, quando meus olhos não podem alcançar o limite da sua existência.

Ela sorriu.

- Mas acima de tudo, apavoro-me com a ideia de não poder definir esse sentimento estranho que pesa no meu peito, que porporciona, a cada palavra dita e não dita sua, uma aceleração dos meus batimentos cardíacos, que molha a minha face de nervoso, que gela minhas mãos, que me atordoa e me tira do sentido, exila-me da área da razão.

Como ela permaneceu sem dizer nada, ele fechou os olhos, como se os piscasse, mas demoradamente, esperando acordar e não mais vê-la.

Ao abri-los, ela estava a milímetros do físico dele. Os olhos castanhos e brilhantes dela olhavam de um olho a outro dele. Esquerdo, direito. Esquerdo, direito. Vagarosamente. Todo o rosto dela sorria.

Sem muito esforço, ela diminuiu os poucos milímetros entre eles, pegando em sua mão carinhosamente.

Colocou-a na altura dos olhos e analisou-a. Cada veia saltada, cada dedo. Fechou-a, abriu-a e analisou todo o movimento enquanto fazia isso. Depois colocou-a levemente sobre o próprio peito e olhou nos olhos dele.

Ele ficou espantado. Não com o ato, mas por não sentir batimento algum tentar romper o peito dela.

Ela desceu as mãos e aproximou o ouvido no peito dele. Lá, quase que pulando para fora, o músculo involuntário dele estava com uma batida incontável de rápida. Ela riu deliciosamente e abraçou-o. Segundos depois a pulsação dele pensou em parar. Talvez para sentir em toda a parte do corpo, a aproximação da ternura dela.

O céu estava azul claro com nuvens brancas, fofas, espaçadas. O sol estava claro, morno. O vento tinha parado, junto do tempo. Ele vestia uma camiseta branca, com a gola num corte em V. Jeans nas pernas. Descalço. Ela vestia um vestido lilás, com uma fita roxa envolvendo a cintura, finindo num laço nas costas. Descalça.

Ela se afastou. Levou a mão direita à bochecha esquerda dele. Com o polegar, acariciou-a, subindo e descendo. Os olhos dela, iam de um a outro dele. Ela, mais uma vez desceu a mão, virou-se e saiu andando.

Poucos metros longe, virou para ele, sorriu, abriu as asas e sumiu.

Como um pulo, sentado na cadeira de madeira, ele acordou ofegante. E podia jurar: os olhos dela, estavam numa cor que tendia ao lilás. Os dele, vazios.

"A pessoa por quem a gente se apaixona é sempre uma invenção." - Romance.

- Cecília.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009





Ela foi chegando de mansinho e deitou na rede branca, que ficava presa nas pilastras da varanda.

As pernas quase magras empurravam o chão para mover os ventos nos cabelos quando a rede fazia o movimento antagônico da ida.

O vento era morno, a luz do sol entrava pelas árvores, terna e quente, as borboletas iam de flor em flor colhendo pólen, provando os diferentes gostos.

Até que a cabeça dela encontrou o peito dele e ficou ali.

-Sabe o que eu gosto em você? - ele perguntou.

- O quê? - ela respondeu com pergunta.

- Gosto da maneira como sua cabeça se encaixa bem no meu peito e deixa seu cheiro bem abaixo da minha respiração, pra me deixar louco e parcialmente saciado.

Ela ficou quieta.

- Gosto quando as minhas mãos seguram o seu rosto, como se ele fosse feito da mais sensível procelana que com um suspiro diferente correria o risco de trincar e perder a clareza.

Ela ficou quieta.

- Gosto da maneira como seus olhos perfuram o meu íntimo, buscando me confortar e da maneira como seu sorriso me abraça.

Silêncio.

- Gosto da maneira como minha mão cabe no vão dos seus dedos, como a sua pele se contrasta com a minha, como seu peito arfa durante a inspiração do ar, e como você me apavora quando demora demais para expirá-lo.

Ele riu. Ela, calada.

- Gosto da maneira como você me beija e como consegue mudar o conforto para o arrepio quando da carícia nos lábios passa a mordê-los. Gosto do caminho que suas mãos percorrem antes de chegarem no meu pescoço e do cheiro que a sua pele deixa como rastro.

Ela levantou a cabeça. Os cabelos castanhos claro ficaram voando com o vento, passando pelos olhos, também castanhos, acariciavam os lábios rosados, enfim, desenhavam sobre aquele rosto fino, perfeito.

Olhou-o intimamente. Sorriu, claramente. Tocou-o no rosto. Aproximou-se.

Colocou a boca úmida sobre a sedenta dele. Sugou dele toda aquela vontade.

Afastou-se. Sorriu mais uma vez e se levantou.
E foi andando pelo mato. O vestido branco esvoaçava. Ela olhou para trás e depois...

sumiu.

domingo, 16 de agosto de 2009



A infância é um estágio magnífico.

Puro, inocente, despreocupante e acima de tudo, criativo.

O mundo é um parquinho.




Às vezes, posso dizer quase que com muita frequência,

eu sinto que estou sentada num gira-gira.

E a cada instante rodando mais rápido.

Mais rápido.

Mais rápido.

Há pessoas que passam como borrões.

Há aquelas que pulam, arrisacando-se, e sentam do seu lado.

Há as que pulam e caem.

Há as que têm medo de pular.

E existe eu, que tem medo de descer.

Que pede: "Mais rápido, mais rápido!"

E ela gira.

E gira

E gira

E eu então fecho os olhos.

Eu não estou mais lá

Estou curtindo o momento

O vento

Viajando no meu pensamento

Fazendo dele realidade

Fazendo dele um caminhar longe do gira-gira.

Fazendo do sonho, os pés no chão.

Mas

De repente,

pára.

E a vida volta ao tédio da realidade incontestável.




><, eu só queria viver longe.

Mas eu cresci =/.




Cecília.


sábado, 15 de agosto de 2009


Um dos piores sentimentos que já corroeram meu interior
é o da Inutilidade.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009


Às vezes são os nossos monstros internos que nos trazem maior conforto.

sexta-feira, 17 de julho de 2009



"Os meus braços estão frios.
O buraco da tua ausência nos meus abraços, deixou - os sem rumo. Inquietos eles procuraram.
E se cansaram. E no marasmo, deixados à sua espera, eles ficaram, na mesma posição de quando teu corpo me preenchia, de quando eu sentia a vontade inquietante do seu coração de bater e, quem sabe, pular do seu peito e cair no meu.

As minhas mãos, por um longo tempo após sua saída, tatearam ao lado, acima, abaixo, no meu pescoço, pelos caminhos que você desenhou, mas não acharam as suas. Não acharam o calor do seu toque.
E elas estremeceram, junto do meu corpo.
Eu ainda posso sentir a pressão e o carinho das suas mãos. E os lugares em que esses momentos aconteceram, adormecem.

E os meus beijos.
Eles choraram junto dos meus olhos. Meus sorrisos saem, agora, perdidos. Eles não têm mais motivos para se encabularem, tampouco olhares para apreciar.
Minha boca, assim como todo o resto, só tem a lembrança, guardada, cravada com uma mordida profunda nos lábios.

Eu sinto sua falta."


texto e foto são meus. ;)

quinta-feira, 2 de julho de 2009


Então esse é o sabor da felicidade?
Quero mais ><.

segunda-feira, 22 de junho de 2009




"As muralhas caíram, e a criança indefesa está perdida, buscando alguém que a guie com o silêncio.
E quando ela clamar, quando ela chorar, gritar para que esse silêncio chegue logo, os Anjos chegarão."




E se eu passar a vida inteira esperando por eles?


Por mais que eu os sinta tão perto.


Acho que terei de esperar um vida inteira pra que eles venham me acalmar não é mesmo?




Eu fico me perguntando: O que é ser forte?

É entender todos os sentimentos e tentar ajeitá-los dentro do peito?

É tê-los guardados num baú pra aumentar o volume do pilar?

É conservá-los da própria consciência de que eles existem?

É tentar convencê-los de que não estão ali?

De que nunca existiram? De que não adianta eles gritarem, você não vai ouvir?

De que não adianta eles tentarem sair, seu corpo vai se fechar?

É tentar mostrar-lhes um motivo para partir?

Ou para ficar? Ou talvez para nem virem?


Sabe o que pra mim é ser forte?

Forte é a borboleta, que tem que comer e engordar e se enclausurar

pra depois sair delicada e suavemente voando, com uma beleza singela que faz as flores sorrirem e se abrirem toda vez que chega e viver nesse gracioso tédio até que um ser externo arranque dela a graça do liberdade do bater das pequeninas asas.

É o ato de parecer indiferente mas fazer a maior falta para um ciclo vital.

É viver.

Ela não se importa se aquela flor não sorrir, ela vai pra outra. E com a mesma graça e leveza.

Acho que mais que ser forte..



Texto e foto meus.

terça-feira, 26 de maio de 2009




De todas as falhas e incertezas humanas, o fim é certo. Mas é porque não é humano. A Vida e a Morte, as Graças, nada nos compete. Com o passar do tempo, nós perdemos tudo. Todos os pronomes indefinidos se vão: alguém, alguma coisa, tudo,... Porque realmente não eram importantes. Se NOS perdêssemos, aí sim seria uma perda. Na morte, não só na física, mas na diária, nós nos perdemos. Nos perdemos na perda dos outros, nas nossas. Mas falo das perdas reais, daquelas que trazem aos olhos a água transparente da dor. É, dessas perdas, o que nos pertence são as lágrimas.


O Ser Humano é o animal mais fraco do mundo. Ele tem sentimentos. E não por tê-los que somos frágeis, mas por tentar entendê-los e saber, reconhecer que os estamos sentindo.


As muralhas caíram, e a criança indefesa está perdida, buscando alguém que a guie com o silêncio.


E quando ela clamar, quando ela chorar, gritar para que esse silêncio chegue logo, os Anjos chegarão.

terça-feira, 19 de maio de 2009


Sabe o porquê de eu escrever na calada da noite?
Justamente por isso.
Ela é calada.
É no silêncio que as palavras tomam o sentimento, não o sentido.

sábado, 2 de maio de 2009




No final das contas, eu sei, você vai se deitar ao meu lado.

Daí, teu cabelo vai poder roçar no meu rosto.

Teus lábios poderão brincar no meu pescoço.

Tuas mordidas se perderão em minhas orelhas.

E em MEUS lábios, uma marca funda, deixarão.

Tuas mãos trarão calor ao frio arrepio em minha pele.

Assim como o pôr-do-sol trás a quente sensação do conforto

No final dum dia frio de inverno.

E teu hálito quente o trará de volta.

No final, só no final.



Bem que nossa história podia começar pelo fim, não é mesmo, anjo?

E o meio seria o início do resto de nossas vidas.

E o título, um belo ponto final, a conclusão.

Só porque meu amor é assim.

Completamente atemporal e fora do normal.




Cici.


terça-feira, 28 de abril de 2009

Por que o outono?


Porque é quando o céu tenta imitar a rubrosidade da rosa.

Mas o máximo que ele consegue é o rosa da rosa rosa.

Essa cor meio de céu divino.

Calmo.

Assim, como tuas bochechas.


Porque é em seus campos que eu tenho vontade de me perder.

Jogar-me.

Invadir.

Assim, como nos teus braços.
E abraços.


Porque é no labirinto de sua temperatura, ora frio,

ora quente,

que eu me iludo.

Descuido-me.

Assim, como nos teus beijos.


Porque é na noite de outono que a lua vem sorrindo.

E sorrindo ela vai subindo.

Os morros e os obstáculos,

Ela só vai passando e levando tudo consigo.

Assim, como teu sorriso.


Porque é na negra noite de outono

que as estrelas conseguem me chamar mais ainda a atenção.

Hipnotizando-me.

Assim, como teu olhar.


Mas sabe o porquê mesmo de ser somente o Outono?


Porque é só em seus fortes e uivantes ventos

que teu cheiro avassalador vem até mim.

E me toma.

Do começo ao fim.


Cici.










quarta-feira, 22 de abril de 2009

Se existe a saudade agora, é porque existiu você antes.

Ausência machuca um pouco, mas nada que a poesia não cure.





"Realejo"
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli / Danilo Souza


Será que a sorte virá num realejo?

Trazendo o pão da manhã

A faca e o queijo

Ou talvez... um beijo teu

Que me empreste a alegria... que me faça juntar

Todo resto do dia... meu café, meu jantar

Meu mundo inteiro...que é tão fácil de enxergar...

E chegar




Nenhum medo que possa enfrentar

Nem segredo que possa contar

Enquanto é tão cedo

Tão cedo




Enquanto for... um berço meu

Enquanto for... um terço meu

Serás vida... bem vinda

Serás viva... bem viva

Em mim




Será que a noite vira num vilarejo

vejo a ponte que levara o que desejo

admiro o que há de lindo e o que há de ser... você




Enquanto for... um berço meu

Enquanto for... um terço meu

Serás vida... bem vinda

Serás viva... bem viva

Em mim






"Os opostos se distraem

Os dispostos se atraem"

sexta-feira, 17 de abril de 2009





Meu coração acordou hoje



com uma vontade de se jogar do precípio



do amor.



De se espatifar no peito de uma outra pessoa.



Minhas mãos acordaram com uma vontade



de brincar nos labirintos dos seus dedos



e bagunçar seus cabelos.



Meus lábios acordaram com o desejo



de contar aos seus



em sussurros



o sonho que minha cabeça maluca projetou



na noite que passei acordada.



Meus olhos despertaram no ímpeto



de encontrar o raiar dos seus.





Meu corpo vai dormir dançando a sua música.



Cici.

sábado, 11 de abril de 2009




Sortudo é aquele que se perde no trânsito...






...do mundo das idéias platônicas.




Cici.

domingo, 5 de abril de 2009



Acho que o que é difícil na vida, é se apaixonar pelas coisas simples.


Mas mais difícil ainda, é quando, depois de se apaixonar, ver que não eram nem um pouco simples, que envolviam algo muito maior do que se pensava, quase mágico.


E é complicado sair do estado de êxtase que elas te colocam.


Você passa acreditar até que tem vida própria, que os ventos cantam, e as árvores dançam.


Adoro me perder na simplicidade dessa arte natural.





"Não vai mais o lobo uivar para a lua azul, já não importa mais a nossa cor. Quero cantar com as belas vozes da montanha e com as cores do vento colorir. Você só vai conseguir, dessa terra usufruir, se com as cores do vento, colorir".




cici.

terça-feira, 31 de março de 2009

A questão nem é o que você espera do mundo, das pessoas.

A questão é o que elas esperam de você.

O que você vai dizer.

O que você vai fazer.

Como você vai reagir.

Elas sempre esperam que a gente o faça de alguma maneira.

E nós surpreendemos.

Nós mesmos, elas.

E de todas as surpresas, a resposta mais inesperada.

O sorriso.

Sorriso aprisiona as pessoas.

Sustenta olhares.

Cria certas ilusões.

Mas não é por isso que ele é surpreendente.

É porque ele é sincero.

A sinceridade é inesperada.

Deve ser por isso que ele brilha mais.

Então, não espere muito de mim.

Quando agir de certa forma, andar de certa forma, falar, perguntar de certa forma.


Eu sorrirei.

Cici.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Tem certos caminhos que a gente tem um desejo enorme de se perder.


Pra nunca mais encontrar.


Certos caminhos, que são caminhos de outros.


Certos caminhos que são, praticamente, você.


Caminhos novos.


Estranhos.


Difíceis de se alcançar (esses são os melhores).


Qual é o meu?


Eu ainda só estou procurando as placas.


Cici.

sexta-feira, 27 de março de 2009



Sonho.


Esses dias eu estava na padaria atrás de uma mulher com uma criança, assim, de 6 ou 7 anos, pelo menos era o que me parecia.

A mulher pediu, com um trocado, um (1) pão diferente, tipo desses recheados. A criança, então, apontou um sonho. A mãe pensou um pouco, e pediu para o "moço" do balcão um (1) sonho. Os olhinhos da criança brilharam. As mãozinhas se enrolaram na camisetinha tamanha era a excitação, assim como as crianças ficam. O homem pegou o sonho, colocou dentro de um desses saquinhos de pão e o entregou à mãe. Ela pegou o saquinho e o deu à criança.

Ele saiu pulando de felicidade, chegou à porta da padaria e disse a uma senhora que estava parada ali em frente:

- Olha, Vovó. Um sonho. - e sorriu. Abriu o saquinho e ficou olhando aquilo que estava lá dentro com um brilho nos olhos que ofuscava até os expectadores (eu).

A senhora olhou o menino e olhou para a mãe, que observava tudo de lá de dentro.

- Um sonho? - ela perguntou.

A mãe desviou o olhar e a pergunta. Voltou-se para o balcão e pegou a conta.

-*-


O capitalismo conseguiu colocar os sonhos e a felicidade de uma criança "da classe média" dentro de um saquinho de pão.

O que ele fez com os sonhos e a felicidade da criança que nem sabe o que é um pão?

Ele colocou no mundo utópico, e os substituiu com a miséria.


Cici.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Je t'aime, Paris.


"Où l'amour sera roi

Où l'amour sera loi

Où tu seras reine


Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas..."


(Maysa - "Ne me quitte pas")


Um sonho *.*




domingo, 22 de março de 2009

Borboletas.






"Da minha vida posso oferecer-lhe o conforto;





Dos meus lábios ofereço-te doces beijos;





Das minhas mãos dou-lhe leves carícias;





Dos meus olhos espere um piscar sem graça;





E do meu jardim a beleza de todas as borboletas."






Foto: By Me


Cici.






sábado, 21 de março de 2009

.


Às vezes bate forte dentro do peito

a vontade de te carregar nos braços.

De poder sentir o ar atravessar seus pulmões

apressadamente

à medida que meus lábios se aproximam

dos seus.


Às vezes, só às vezes.


Vontade de ouvir o som do seu sorriso,

de dizer calado ao pé do seu ouvido

que lugar nenhum no mundo

vai ser tão aconchegante

quanto este aqui

com você


Às vezes, só às vezes.


De poder querer sentir o seu coração

querendo pular do penhasco

e se espatifar no meu peito.

De ver seus olhos enrubecerem

por causa da intimidade que os meus procuram.


Às vezes, só às vezes.


Cici.

sexta-feira, 20 de março de 2009


A palavra, a fala, a maneira como nós nos comunicamos, surgiram com a razão, e da razão fez-se a cultura, por tanto, a palavra e a fala, também são cultura, o que nos diferencia, de certa forma, dos outros animais. E algo com tanto valor não deveria ser utilizado da maneira como eu tenho visto pessoas fazendo. A palavra tem uma força imensurável, isto é, ela só, sem contar a entonação, o valor, que damos a ela. Os livros por exemplo, palavras deixam de ser palavras, são histórias. Mas ultimamente, acho que o que tem "detonado" o mundo em que vivemos é o excesso de fala, excesso de palavras, de informação. É tanta, que a maioria opta pela ignorância, pelo comodismo.








O mundo precisa mais de silêncio.









Afinal, quem disse que o silêncio é algo ruim? Para falar a verdade, nunca ouvi som mais bonito do que o do silêncio. E não quer dizer que está vazio, muito pelo contrário, o silêncio enche, deve ser por isso que incomoda tanto.





"Vamos falar mais baixo, vamos parar para escutar."



"Às vezes o silêncio tapa os buracos e o amor prossegue intacto"


Cici.